Falamos com os vivos quando já estão mortos
olhamo-los mas já não os vemos
mesmo quando trocamos cigarros e livros e piadas de mau gosto
estão aí à nossa frente tocamos-lhes as mãos
ajeitamos-lhes a gravata sacudimos-lhes a caspa do ombro
a alguns afagamos-lhes a nuca
dormimos com eles
não deixaremos de manter compromissos fáceis de não cumprir
marcaremos viagens a sítios que não há
- é bom fingir que gostamos uns dos outros
em que podem beneficiar com a morte para além
do prejuízo da sua inarticulável ausência?
basta uma bandeira ou isso dois ou três objectos
de afecto um gesto que escorre a memória
(por cada um que parte é um que não morre)
apesar das ruas desertas continua
a vontade do amor e a alegria crua dos rapazes
queimando gatos vivos
fisgando pardais
ouvirão eles o que não dizemos?
5.22.2010
Paulo Pais
Publicada por as abóboras mecânicas à(s) 08:34
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
0 comentários:
Enviar um comentário