2.26.2010

SEM RUMO...ILUSÃO...

Na última semana fizemos uma descoberta muito cara: o senhor Filipe António Pacheco!
Muito Obrigada por contribuir para este " ajavardamento" sublime!

Sentir nascer no peito um’alvorada,
ver nascer um Sol em noite escura,
andar no céu com anjos, de mão dada,
ter desejos de espargir ternura,
Será Amor ?...Querer? É tudo...e nada!
Ao “querer”, Amor diz uma “Loucura”,
carícia responde à Carícia dada
e ao beijo responde uma “Ternura”!...
Se assim não sucede, é Ilusão
nascida n’alma? Ou na matéria impura?
É nada...dor...do Desespero irmão.
Ele nos aponta a estrada escura
que conduz dos extremos da Paixão
aos extremos da Dor e da Loucura!

Filipe António Pacheco
(Lisboa,1955)

2.18.2010

"Eu e os Livros"


“Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de biblioteca.”

                                                                            Jorge Luís Borges

O que é um bom leitor?

Confrontada com esta questão, pensei em mim e na minha relação com os livros, o que são para mim, o que me fazem sentir e descobrir, onde me levam…

Se sou uma boa leitora, não sei… Sei, sim, que sou uma leitora voraz e apaixonada.

Sei que mantenho com os livros uma relação de amor – gosto do seu cheiro e do seu “sabor”, gosto da sua textura e da música compassada do seu folhear, sinto-me sozinha se os não tenho por perto.

Uma casa sem livros é para mim uma casa triste e vazia. Livros e flores tornam mais leves e ricos os meus momentos de solidão.

Cresci com livros e com eles partilhei muitos dos momentos da minha vida. Sonhei, recordei, senti mágoas e prazeres, ri e chorei dentro das páginas dos muitos livros que fui lendo e relendo.

Têm a cara, as mãos e a voz dos meus amores e dos desamores.

Desde sempre tive livros à distância de um olhar e de um gesto – os meus livros da “Anita” e dos “Cinco”, os livros do meu pai que fui lendo às vezes cedo de mais, os livros dos primos mais velhos, os livros da escola no início de cada novo ano (que bem cheiravam), os livros que religiosamente uma vez por mês requisitava na Biblioteca Itinerante da Gulbenkian…

Desde sempre senti também vontade de escrever sentimentos descobrindo-me em cada palavra que teimosamente saltava para o papel e me surpreendia.

Fui crescendo e passei a ter os MEUS LIVROS a povoar a minha casa e a minha vida.

Aprendi o prazer de embalar a minha filha ao som de muitas e muitas estórias e de lhe ensinar este gosto e este prazer que faz da minha vida um lugar mais valioso e mais habitável em que partilhamos sentidos e sentimentos com o mundo inteiro.

 

Já em 1890 Eça de Queirós se queixava que "O país não lê nem quer ler. Quando muito aguenta um romance."

Estas palavras continuam dramaticamente actuais e assim, é pertinente e urgente saber como “fazer” um bom leitor.

Penso que um bom leitor terá de ter uma forte ligação afectiva com os livros, associá-los a pessoas e a momentos fundamentais da sua vida. Esta ligação será mais forte se for precoce, se desde muito cedo os livros se tornarem um prazer e mesmo uma necessidade.

Um bom leitor investe naturalmente o seu tempo e a sua energia na leitura, como sublinha Daniel Pennac:"o verbo ler não suporta o imperativo".  

Se a leitura se tornar um hábito e mesmo “um vício” ela acontece tão naturalmente como o acto de falar que vamos aprendendo e desenvolvendo sem esforço, num processo gradual de descoberta e fruição.

A leitura é um meio privilegiado de conhecimento do mundo e de si mesmo, um instrumento de organização de pensamentos e emoções.

A leitura potencia a vontade e a capacidade de escrever, instrumento privilegiado de auto-conhecimento e de partilha de ideias e emoções.

 

“Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever - inclusive a sua própria história.”

                                                                                                                                 Bill Gates

Lídia Piano 

2.13.2010

:)

2.10.2010

Off price de Ferreira Gullar

Que a sorte me livre do mercado
e que me deixe
continuar fazendo (sem o saber)
fora de esquema
meu poema
inesperado
e que eu possa
cada vez mais desaprender
de pensar o pensado
e assim poder
reinventar o certo pelo errado

2.05.2010

Porque existimos agora na sombra do que fomos
E vivemos na reminiscência
Do nosso amor ou da nossa demência

Ficava na cama a embalar a tristeza
E pela janela entrava o luar
Que tocava os lençóis em que te costumavas deitar



Ana Cardoso, julga que escreve.

2.04.2010

Uma pedra é uma pedra

uma pedra
(diz
o filósofo, existe
em si,
não para si
como nós)
uma pedra
é uma pedra
matéria densa
sem qualquer luz
não pensa
ela é somente sua
materialidade
de cousa:
não ousa
enquanto o homem é uma
aflição
que repousa
num corpo
que ele
de certo modo
nega
pois que esse corpo morre
e se apaga
e assim
o homem tenta
livrar-se do fim
que o atormenta
e se inventa

Ferreira Gullar
Porque também gostamos muito do sabor da poesia brasileira !
Obrigada professora Ana Cristina, que se invente e nos invente por muitos anos.

2.03.2010

" how I met my school "

As jovens e belas Abóboras Mecânicas sentiam-se ainda há dias desmotivadas com o impacto do blogue. Até que numa quarta-feira à tarde encontram a caixa de mensagens relativamente cheia de pedidos e de colaborações. Um sorriso "puramente belo" desenhou-se no nosso rosto. Assim nos próximos dias publicaremos tudo quanto nos foi pedido, destacando hoje a Professora de Alemão. A esta um muito obrigada!

por Teresa Morais
Foi assim que tudo começou…

A Escola Secundária do Padrão da Légua começou por ser uma escola de papel – alguns parágrafos publicados em Diário da República nomeavam uma Comissão Instaladora e um funcionário auxiliar. Espaço físico não existia. Em breve, o reduzido quadro de professores efectivos, entretanto criado, esquadrinhava o Padrão da Légua, procurando, em vão, encontrar a sua escola. Nenhum edifício público foi poupado - desde escolas primárias até à igreja. Até que surgiram rumores que a escola funcionaria provisoriamente no Palacete Visconde de Trevões, em Matosinhos, enquanto o edifício definitivo era construído. Mas nós, os professores, não desistíamos de querer ver a nossa futura escola e lá nos encaminharam para o local – entre incrédulos e desconsolados, olhávamos para um campo de couves e erva onde pastavam paulatinamente algumas vacas. Era ali.
Depois, numa manhã de Novembro de 1979, rumámos ao Palacete para o primeiro dia de aulas. Trinta professores, vinte turmas de sétimo ano e uma meia dúzia de funcionários, entre auxiliares e administrativos. E o velho Palacete empurrou os seus fantasmas para os cantos mais recônditos e encheu-se de vida. O cheiro a bolor foi embrulhado pelo cheiro a papel de cadernos e livros a estrear e lanchinhos preparados pelas mães; o ranger dos velhos degraus daqueles três pisos foi abafado pelo tropel de umas centenas de jovens, pouco mais que crianças, que se dirigiam às salas e salões, que seriam agora as suas salas de aula. Aí, os olhos vagueavam pelos belos tectos pintados, imaginando, talvez, momentos de um passado faustoso e perdido, e desciam pelas enormes janelas até se imobilizarem nas centenárias árvores do terreiro. E só depois veio o Português, o Inglês, a Matemática...
O velho Palacete recuperara alguma da sua dignidade, não obstante o frio que entrava pelas frestas de portas e janelas, o ranger de gonzos, uma gota de água que, teimosamente, batia num piano esquecido num canto de uma das salas. A antiga cozinha foi transformada em Secretaria. Ao fundo do terreiro, as adegas e cocheiras deram lugar ao Bufete e Ginásio, onde o professor de Educação Física, licenciado em Direito, e de sobretudo bem abotoado, iniciava os alunos na árdua prática da mens sana in corpore sano.
No terceiro piso, de tecto assotado, instalou-se a Reprografia. Era o reino do Sr. Maravilhas, impecável na sua bata preta. Quem se aventurava àquele último lanço de escadas, ia sentindo o cheiro do stencil e ouvindo o matraquear da duplicadora, e sabia que, depois daquele esforço hercúleo, seria recebido com uma palavra amável e um serviço competente.
Foram dois anos que se foram escoando sem grandes sobressaltos, num clima familiar, pontilhado, por vezes, de pequenos atritos, que se esfumaram no tempo.
E numa outra manhã de Novembro, demos por nós a olhar abismados para a nova escola – dois pavilhões e um edifício administrativo erguiam-se imponentes no que fora, num passado não muito longínquo, um campo de couves. Então foi preciso fazer a mudança e não houve recurso que se desprezasse, desde automóveis de professores a transportar cadeiras a empregadas domésticas de alunos a varrer salas e a limpar material.
A Escola Secundária do Padrão da Légua virava uma nova página.

2.01.2010

a mafalda gosta da dor alegre

Não há mais sublime sedução do que saber esperar alguém.
Compor o corpo, os objectos em sua função, sejam eles
A boca, os olhos, ou os lábios. Treinar-se a respirar
Florescentemente. Sorrir pelo ângulo da malícia.
Aspergir de solução libidinal os corredores e a porta.
Velar as janelas com um suspiro próprio. Conceder
Às cortinas o dom de sombrear. Pegar então num
Objecto contundente e amaciá-lo com a cor. Rasgar
Num livro uma página estrategicamente aberta.
Entregar-se a espaços vacilantes. Ficar na dureza
Firme. Conter. Arrancar ao meu sexo de ler a palavra
Que te quer. Soprá-la para dentro de ti -----------------------
------------------------- até que a dor alegre recomece.


maria gabriela llansol