2.03.2010

" how I met my school "

As jovens e belas Abóboras Mecânicas sentiam-se ainda há dias desmotivadas com o impacto do blogue. Até que numa quarta-feira à tarde encontram a caixa de mensagens relativamente cheia de pedidos e de colaborações. Um sorriso "puramente belo" desenhou-se no nosso rosto. Assim nos próximos dias publicaremos tudo quanto nos foi pedido, destacando hoje a Professora de Alemão. A esta um muito obrigada!

por Teresa Morais
Foi assim que tudo começou…

A Escola Secundária do Padrão da Légua começou por ser uma escola de papel – alguns parágrafos publicados em Diário da República nomeavam uma Comissão Instaladora e um funcionário auxiliar. Espaço físico não existia. Em breve, o reduzido quadro de professores efectivos, entretanto criado, esquadrinhava o Padrão da Légua, procurando, em vão, encontrar a sua escola. Nenhum edifício público foi poupado - desde escolas primárias até à igreja. Até que surgiram rumores que a escola funcionaria provisoriamente no Palacete Visconde de Trevões, em Matosinhos, enquanto o edifício definitivo era construído. Mas nós, os professores, não desistíamos de querer ver a nossa futura escola e lá nos encaminharam para o local – entre incrédulos e desconsolados, olhávamos para um campo de couves e erva onde pastavam paulatinamente algumas vacas. Era ali.
Depois, numa manhã de Novembro de 1979, rumámos ao Palacete para o primeiro dia de aulas. Trinta professores, vinte turmas de sétimo ano e uma meia dúzia de funcionários, entre auxiliares e administrativos. E o velho Palacete empurrou os seus fantasmas para os cantos mais recônditos e encheu-se de vida. O cheiro a bolor foi embrulhado pelo cheiro a papel de cadernos e livros a estrear e lanchinhos preparados pelas mães; o ranger dos velhos degraus daqueles três pisos foi abafado pelo tropel de umas centenas de jovens, pouco mais que crianças, que se dirigiam às salas e salões, que seriam agora as suas salas de aula. Aí, os olhos vagueavam pelos belos tectos pintados, imaginando, talvez, momentos de um passado faustoso e perdido, e desciam pelas enormes janelas até se imobilizarem nas centenárias árvores do terreiro. E só depois veio o Português, o Inglês, a Matemática...
O velho Palacete recuperara alguma da sua dignidade, não obstante o frio que entrava pelas frestas de portas e janelas, o ranger de gonzos, uma gota de água que, teimosamente, batia num piano esquecido num canto de uma das salas. A antiga cozinha foi transformada em Secretaria. Ao fundo do terreiro, as adegas e cocheiras deram lugar ao Bufete e Ginásio, onde o professor de Educação Física, licenciado em Direito, e de sobretudo bem abotoado, iniciava os alunos na árdua prática da mens sana in corpore sano.
No terceiro piso, de tecto assotado, instalou-se a Reprografia. Era o reino do Sr. Maravilhas, impecável na sua bata preta. Quem se aventurava àquele último lanço de escadas, ia sentindo o cheiro do stencil e ouvindo o matraquear da duplicadora, e sabia que, depois daquele esforço hercúleo, seria recebido com uma palavra amável e um serviço competente.
Foram dois anos que se foram escoando sem grandes sobressaltos, num clima familiar, pontilhado, por vezes, de pequenos atritos, que se esfumaram no tempo.
E numa outra manhã de Novembro, demos por nós a olhar abismados para a nova escola – dois pavilhões e um edifício administrativo erguiam-se imponentes no que fora, num passado não muito longínquo, um campo de couves. Então foi preciso fazer a mudança e não houve recurso que se desprezasse, desde automóveis de professores a transportar cadeiras a empregadas domésticas de alunos a varrer salas e a limpar material.
A Escola Secundária do Padrão da Légua virava uma nova página.

1 comentários:

Rock in ESPL disse...

Os rockeiros saúdam a veia poética da professora de Alemão!

Yeaaaaah \m/