3.25.2010

Emigra da cidade e não te esqueças
de deixar para sempre o GPS;
não vás de carro, apanha antes boleia
de um camião escuro, daqueles que
vão carregar comida ao estrangeiro,
e não voltes nele ao país de fome.
Quando vires um bosque já distante,
a dias infinitos de viagem
para lá da fronteira do teu povo,
diz ao piloto autómato que pare,
que tens enorme urgência em urinar,
mas traduz este verbo para gíria:
os autómatos vivem em silêncio
e o seu vocabulário é curto e grosso.
Depois de ele encostar o camião,
diz que não demoras, que vens já,
e internas-te no bosque até achares
o primeiro caminho, e vais por ele
dia e noite. Não penses ou perguntes
e não sintas saudade nem fadiga,
e ao saberes que o tempo te levou
o passado e o futuro, andando tu
em uma rota larga, encontrarás
a planície sem fim do esquecimento.
Chegaste onde devias. Adormece
e não sonhes sequer em regressar.

Nuno Dempster

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