12.07.2009

Segredo

Esta noite morri muitas vezes, à espera
de um sonho que viesse de repente
e às escuras dançasse com a minha alma
enquanto fosses tu a conduzir
o seu ritmo assombrado nas trevas do corpo,
toda a espiral das horas que se erguessem
no poço dos sentidos. Quem és tu,
promessa imaginária que me ensina
a decifrar as intenções do vento,
a música da chuva nas janelas
sob o frio de fevereiro? O amor
ofereceu-me o teu rosto absoluto,
projectou os teus olhos no meu céu
e segreda-me agora uma palavra:
o teu nome - essa última fala da última
estrela quase a morrer
pouco a pouco embebida no meu próprio sangue
e o meu sangue à procura do teu coração.


Fernando Pinto do Amaral, Às Cegas

2 comentários:

eleanorigby disse...

conduzes-me sempre, em todas as minhas danças.

mafalda disse...

enquanto houver noites em que se pode morrer, eu sei que tenho com quem partilhar uma laranja, uma estrela, uma ferida. e isso é que é bonito. ( o teu rosto foi-me oferecido : só posso agradecer e guardar ).