2.18.2010

"Eu e os Livros"


“Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de biblioteca.”

                                                                            Jorge Luís Borges

O que é um bom leitor?

Confrontada com esta questão, pensei em mim e na minha relação com os livros, o que são para mim, o que me fazem sentir e descobrir, onde me levam…

Se sou uma boa leitora, não sei… Sei, sim, que sou uma leitora voraz e apaixonada.

Sei que mantenho com os livros uma relação de amor – gosto do seu cheiro e do seu “sabor”, gosto da sua textura e da música compassada do seu folhear, sinto-me sozinha se os não tenho por perto.

Uma casa sem livros é para mim uma casa triste e vazia. Livros e flores tornam mais leves e ricos os meus momentos de solidão.

Cresci com livros e com eles partilhei muitos dos momentos da minha vida. Sonhei, recordei, senti mágoas e prazeres, ri e chorei dentro das páginas dos muitos livros que fui lendo e relendo.

Têm a cara, as mãos e a voz dos meus amores e dos desamores.

Desde sempre tive livros à distância de um olhar e de um gesto – os meus livros da “Anita” e dos “Cinco”, os livros do meu pai que fui lendo às vezes cedo de mais, os livros dos primos mais velhos, os livros da escola no início de cada novo ano (que bem cheiravam), os livros que religiosamente uma vez por mês requisitava na Biblioteca Itinerante da Gulbenkian…

Desde sempre senti também vontade de escrever sentimentos descobrindo-me em cada palavra que teimosamente saltava para o papel e me surpreendia.

Fui crescendo e passei a ter os MEUS LIVROS a povoar a minha casa e a minha vida.

Aprendi o prazer de embalar a minha filha ao som de muitas e muitas estórias e de lhe ensinar este gosto e este prazer que faz da minha vida um lugar mais valioso e mais habitável em que partilhamos sentidos e sentimentos com o mundo inteiro.

 

Já em 1890 Eça de Queirós se queixava que "O país não lê nem quer ler. Quando muito aguenta um romance."

Estas palavras continuam dramaticamente actuais e assim, é pertinente e urgente saber como “fazer” um bom leitor.

Penso que um bom leitor terá de ter uma forte ligação afectiva com os livros, associá-los a pessoas e a momentos fundamentais da sua vida. Esta ligação será mais forte se for precoce, se desde muito cedo os livros se tornarem um prazer e mesmo uma necessidade.

Um bom leitor investe naturalmente o seu tempo e a sua energia na leitura, como sublinha Daniel Pennac:"o verbo ler não suporta o imperativo".  

Se a leitura se tornar um hábito e mesmo “um vício” ela acontece tão naturalmente como o acto de falar que vamos aprendendo e desenvolvendo sem esforço, num processo gradual de descoberta e fruição.

A leitura é um meio privilegiado de conhecimento do mundo e de si mesmo, um instrumento de organização de pensamentos e emoções.

A leitura potencia a vontade e a capacidade de escrever, instrumento privilegiado de auto-conhecimento e de partilha de ideias e emoções.

 

“Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever - inclusive a sua própria história.”

                                                                                                                                 Bill Gates

Lídia Piano 

6 comentários:

mafalda disse...

" Têm a cara, as mãos e a voz dos meus amores e dos desamores " : grande dona lídia. quando for grande quero ser assim. os livros são como prolongamentos do que somos, e é bonito que seja assim.

ashtray girl disse...

eu sublinhava essa mesma frase: "Têm a cara, as mãos e a voz dos meus amores e dos desamores"
beijinho dona Lídia!

Anónimo disse...

Tenho a certeza de que não vais ser como eu... vais ser como TU!
A nossa pele é a única que nos serve e a tua pele é linda:-)!

Beijossss

eleanorigby disse...

Que progenitora espetacular que eu tenho!

"Uma casa sem livros é para mim uma casa triste e vazia. Livros e flores tornam mais leves e ricos os meus momentos de solidão." :)

www.pedradosertao.blogspot.com disse...

Concordo com seus argumentos sobre o papel da leitura, minha grande paixão! abraços

boa noite, má manhã disse...

Quando era mais novo, era incentivado a ler, foi raro o livro que li em modo. O meu objectivo era fazer de conta que estou a ler, e que acabei um livro para a minha mãe ficar contente. Lia umas paginas, e já há anos não pego num livro a não ser para algum trabalho. E as pessoas que gostam de livros, dizem-me para ler. Eu continuo a não ler a não ser que me mostram, ou seja de pessoa amiga. Mas livros não me meto com eles, creio que foi melhor ter pensado em coisas que Nietzsche pensou, e eu nunca tinha ouvido falar do homem, até me terem perguntado se o conhecia. Quando um dia escrevi sobre alguem que ama, alguem que o "mata" (num sentido muito genérico do que escrevi),escrevi em alegoria baseada em técnicas de guerra etc do livro " a arte da guerra" de Sun Tsu não li o livro, vi no wikipedia.

Eu concordo com este texto em muitos aspectos, mas em tudo há excepções, e gosto de escrever, de me expressar, faço algo muito meu como não leio livros. Tecnicamente devo errar, não leio não sei muitas coisas a nível da língua. Mas das poucas pessoas que lêem gostam, sentem e isso é bom. A escrita serve-me para curar, mas não quero ser escritor nem nada.


Os meus livros são a música. E com música em samples por exemplo que descubro coisas da leitura, como descobri das cartas duma freira portuguesa de Soror Mariana Alcoforado. Li um pouco, e sugeri à Mafalda porque é coisa de ela gostar. Mas se tiver filhos gostava que lessem e não serem malandros como eu !